No divino impudor da mocidade,
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!
(Florbela Espanca)
15 de dezembro de 2008
reveleções de um sátiro apaixonado
mas,
seu peito é tão lindo
e
respeito,
soa como despeito,
de quem não sabe sentir
e digo mais
seu peito é tão lindo,
mas da bunda eu gosto mais
pode me chamar
de louco
de desequilibrado
de sátiro
mas,
sua bunda
e
seu peito
são lindos de mais
9 de dezembro de 2008
Ação Performática - São Jorge, o Dragão
18 de novembro de 2008
Gato que brincas na rua
Bom servo das leis fatais
Que regem pedras e gentes,
Que tens instintos gerais
E sentes só o que sentes.
És feliz porque és assim,
Todo o nada que és é teu
Eu vejo-me e estou sem mim,
Conheço-me e não sou eu.
Fernando Pessoa
15 de novembro de 2008
Direito de Uso
13 de novembro de 2008
Comida
ontem fui comida
enfiou em mim gostoso
mas nao gostei
só gosto de comida
ontonte comida denovo
já hoje, mais preenchida
dar não quero
to com fome
só gosto mesmo é de comida
dada, desvalida
viada, gulosa
sexo
não é comigo
o papo é comida
só ser comida
de noite, de dia,
na mesa, na pia
o na porra da casinha de sapê
só quero saber de ser comida
gostosa
toda hora
comida
Bossa Nova
#2802 SOBRE A BURGUESIA BEM-PENSANTE [18/5/2008]
Melhor define a Bossa Nova aquela
noção de "muita calma p'ra pensar".
É calma até demais, se o militar
tomava, pela força, a mortadela!
Eu tive sorte, pois, pela janela
do quarto em que morei, pude avistar,
ao longe, o Redentor! Mas o lugar
daquela Redentora era uma cela!
Que faz, na Bossa, o raio do letrista?
Banquinho, violão... Vá pro diabo!
Depois do golpe é que ele achou a pista!
E paro por aqui, senão acabo
ficando com mais raiva que o sambista,
um "Corcovado" a ouvir, de cabo a rabo!
NOTA: Alusivo ao samba "Corcovado" (Tom Jobim), interpretado por Sílvia
glauco matoso
Teles, entre outros.
6 de novembro de 2008
Nu
Não tenha grandes idéias
Elas não vão acontecer
Você se pinta de branco
E sente-se com problemas
Mas ali estará alguma coisa faltando.
Agora que você encontrou, se foi
Agora que sente isso, não sentirá
Você vai sair fora dos trilhos
Então não tenha grandes idéias
Elas não vão acontecer
Você irá para o inferno pelo o que sua mente suja pensa.
Ela está totalmente despida e te chama para a cama
Não vá, você só vai querer voltar.
thom york
3 de novembro de 2008
Blefe
30 de julho de 2008
Quando fico de pau duro
Sinto-me Deus
Não Deus como Zeus no Olimpo
Deus como Jesus
Como o homem no garimpo ao achar a maior pepita
Como o médico que o cardíaco ressuscita
Sinto-me Deus
Sinto-me forte
Sinto o poder
Toda a grandeza de ser de um povo
Sinto-me um ovo fecundado
Como um viado ao dar o rabo
Sinto-me alado
Sinto-me sábio
Sinto-me luz cuspida de meus lábios
Sinto a explosão dos teus
Quando me coloco Deus
No meio de tuas pernas
(Cazé Peccini)
29 de julho de 2008
3
as que leram nietzsche
as que não leram nietzsche
e nietzsche
11 de junho de 2008
metamorfose
kafka
29 de maio de 2008
11 de maio de 2008
7 de maio de 2008
receita para arrancar poemas presos:
buchas vegetais. óleos medicinais
com as pontas dos dedos. com as unhas
com banhos de imersão
com o pente. com uma agulha
com pomada basilicão
alicate de cutículas
massagens e hidratação
mas não use bisturi nunca
em caso de poemas difíceis use a dança.
a dança é uma forma de amolecer os poemas
endurecidos do corpo.
uma forma de soltá-los
das dobras dos dedos dos pés. das vértebras
dos punhos. das axilas. do quadril
são os poema cóccix. os poema virilha
os poema olho. os poema peito
os poema sexo. os poema cílio
ultimamente ando gostando de pensamento chão
pensamento chão é poema que nasce do pé
é poema de pé no chão
poema de pé no chão é poema de gente normal
gente simples
gente de espírito santo
eu venho do espírito santo
eu sou do espírito santo
traga a vitória do espírito santo
santo é um espírito capaz de operar milagres
sobre si mesmo
para uma nova gramática:
imagine um sentimento água. um sentimento árvore.
uma agonia vidro. uma emoção céu. uma espera pedra.
um amor manga. um colorido vento sul. um jeito casa
de ser. uma forma líquida de pensar. uma vida paredes.
uma existência mar. uma solidão cordilheira. uma alegria pássaro em chuva fina. uma perda corpo.
acho que hoje acordei semente. tenho andado muito temporal. minha irmã vive um momento tudo. a vida
às vezes transborda pelos poros. me atinge um estado livro. aurora em meus joelhos. tem pessoas ponte.
algumas carregam a gravidade nas costas. já conheci gente
vivane mosé
22 de abril de 2008
um poema sobre nada
Às vezes a imaginação caminha na neblina
Descalça, tacteia o chão
Tropeça nos degraus do esquecimento
Cautelosamente aprecia o anonimato
Divorcia-se de todas as referências
Aspira a uma sublimação minimalista
Perde-se na vastidão do silêncio
Apenas encontra cinzenta abstracção
Excita-se na presença da monotonia
Grita por um tédio mundano
Os olhos bebem a escuridão
Testemunha a nudez das palavras
Sorri para folhas em branco
Festeja o vazio das pampas
Dança na invisível turbulência do ar
Anseia pelo vácuo sideral
Desfruta do supremo prazer do nada
M.Daedalus
12 de abril de 2008
Suando Coisas
que aquele menino,
anda suando coisas de tanta criatividade.
11 de abril de 2008
Escolha
10 de abril de 2008
9 de abril de 2008
o ontem e o hoje
hoje eu acordei melhor, o que o uma noite de sono não faz, o mais importante dos benefícios é o poder de síntese: acordar, estudar, e sair com os amigos. só o que eu quero!
repentinho do elefantinho
ele repentinamente, infante
infantil, de repende,
um elefantinho
presentinho
de um pedante
dois chifrinhos, duas sombras
de duas trombas, do infante elefante
e do presente do pedante, o elefantinho
7 de abril de 2008
1 de abril de 2008
Vozita
Chamo-me Umberto Umberto. Quando tudo aconteceu, estava eu sucumbindo com audácia ao triunfo da adolescência. No dizer dos que me conhecem, não dos que me vejam agora, leitor, emagrecido nesta cela, com os primeiros sinais premonitórios de uma barba profética que me endurece as maçãs do rosto, no dizer dos que me conhecem, eu era então um bravo efebo, com essa sombra de melancolia que penso dever aos cromossomos meridionais de um antepassado da Calábria. As jovenzinhas que conheci cobiçavam-me com toda a violência dos seus úteros em flor, tornando-me a telúrica angústia das suas noites. Dos rapazinhos que conheci pouco recordo, porque me encontrava atrozmente na condição de presa de um paixão muito diversa, e os meus olhos mal afloravam as maçãs doiradas dos rostos deles, à contraluz de uma penugem cerosa e transparente.
Eu amava, amigo leitor, e amava com a loucura dos meus anos mais célebres, amava as que tu chamarias, com distraída inércia, “velhas”. Desejava, do mais profundo emaranhado das minhas fibras de imberbe, essas criaturas já marcadas pelos rigores de uma idade implacável, vergadas pelos ritmos fatais dos oitenta anos, terrivelmente minadas pelo fantasma apetecível da senilidade. Para designá-las, ignoradas pelos demais, esquecidas pela indiferença lúbrica dos usagers habituais de sólidas friulanas de vinte e cinco anos, adotarei, leitor — oprimido mesmo agora pelo regurgitar de uma impetuosa presciência que me corrompe todos os gestos de inocência que possa tentar —, um termo cuja exatidão não desespero: parquitas.
Que direis, vós que me julgais (toi, hypocrite lecteur, mon semblable, mon frère!), da caçada matinal que se oferece nos pântanos deste nosso mundo subterrâneo ao apaixonado cheio de ardor das parquitas? Vós que correis pelos jardins vesperais, dedicados à caça banal de garotinhas ainda mal começadas a intumescer, que sabeis vós da caça submissa, umbrátil, grotesca que o apreciador de parquitas pode conduzir pelos bancos dos jardins antigos, na sombra olorosa dos basiliscos, pelas trilhas ensaibradas dos cemitérios suburbanos, à hora da missa aos domingos na esquina dos asilos, à porta dos albergues noturnos, nas filas salmodiantes das procissões em honra dos santos padroeiros, nas quermesses de beneficência, numa cilada amorosa cerradíssima e por desgraça inexoravelmente casta, para mirar de perto os rostos escavados por rugas vulcânicas, os olhos lacrimosos de cataratas, o movimento vibrátil dos lábios consumidos, afogados na depressão refinada de uma boca sem dentes, sulcados de quando em quando por um regato lugidio de êxtases salivares, as mãos triunfantes de nós, nervosas no tremor lúbrico e provocante do desfiar de um rosário de infinita lentidão!
Nunca poderei fazer-te participar, leitor amigo, no langor desesperado dos encontros de olhos fugidios, o frêmito espasmódico de certos contatos labilíssimos, um toque de cotovelo no tropel do bonde (“Desculpe-me, minha senhora, quer sentar-se?” Oh, satânico amigo, como ousar então recolher o olhar úmido de reconhecimento e o “Obrigado, meu bom rapaz”, tu que terias desejado encenar ali mesmo a tua comédia báquica de possesso?), aflorar — roçando-o — um joelho venerável com a perna, entre duas filas de cadeiras na solidão da tarde de um cinema de bairro, apertar com ternura contida — esporádico momento do mais extremo contato! — o braço ossudo de uma velhota que se ajuda a atravessar nos semáforos com ar contrito de jovem explorador!
As vicissitudes da minha idade risível induziam-me a outros encontros. Já disse que possuía uma aparência talvez fascinante, com as minhas maçãs do rosto tisnadas e um delicado rosto de moça oprimida por uma virilidade mórbida. Não ignorei os amores adolescentes, mas sofri-os, como um tributo às razões da idade. Recordo que uma tarde de maio, pouco antes do pôr-do-sol, quando no jardim de uma villa aristocrática — era um local próximo do lago vermelho do sol poente — estendi-me na sombra de um crepúsculo com uma moça cheia de pintas de dezesseis anos, implume, tomada de um ímpeto amoroso dos sentidos verdadeiramente constrangedor. E foi nesse instante, enquanto lhe concedia sem vontade o horizonte caduceu da minha taumaturgia púbere, que vi, leitor, deixando adivinhar-se a uma janela do primeiro andar, a silhueta de uma criada decrépita curvamente desdobrada em duas, enquanto despia ao longo da perna a massa informe de meias pretas de algodão. A visão fulgurante daquele seu membro cheio, marcado pelas varizes, acariciado pelo movimento inábil das velhas mãos aplicadas a desenrolar o volume da peça de vestuário interior, surgiu-me (olhos meus, concupiscentes!) como um atroz e invejável símbolo fálico, brandido por um gesto de virgem: e foi nesse instante que, apanhado num êxtase que a distância exasperava, explodi agonizante numa efusão de assentimento biológico, que a moça (imprudente rãzinha, quanto te odiei!) recolheu gemebunda, como se de um tributo aos seus fascínios acerbos se tratasse.
Terás jamais compreendido, meu néscio instrumento de paixão em atraso, que fruíste das iguarias de uma outra mesa, ou ter-me-á a vaidade obtusa dos teus poucos anos feito aparecer-te como um cúmplice, inesquecível e fogoso? Depois de partires no dia seguinte, com a família, enviaste-me, no fim de uma semana, um cartão assinado com estas palavras: “A tua velha amiga”. Intuíste a verdade, revelando-me a tua perspicácia no uso acertado do adjetivo, ou terá sido apenas a bravata verbal de uma aluna de ginásio em guerra com as boas maneiras filológico-epistolares?
Como fixei desde então, tremendo, tantas janelas na esperança de ver surgir a silhueta desnuda de uma octogenária no banho! Quantas noites, semiescondido por uma árvore, consumei as minhas orgias solitárias, com o olhar na direção da sombra perfilada, atrás de uma cortina, de uma avó suavissimamente entregue a uma refeição salivante! E a horrível decepção, súbita e fulminante (tiens, donc, le salaud!) da figura que se subtrai à mentira das sombras chinesas e se revela no peitoril como aquilo que realmente é: uma bailarina nua, de seios túmidos e ancas ambarinas de égua andaluza!
Assim, durante meses e anos, corri insaciado à caça das adoráveis parquitas, entregue a uma busca que, bem o sei extraía a sua origem indestrutível do instante do meu nascimento, quando uma parteira desdentada e velha — resultado das buscas infrutíferas do meu pai, que, àquela hora da noite não foi capaz de encontrar outra senão ela, com um pé já na cova — me livrou da prisão viscosa do seio materno e me mostrou à luz da vida o seu rosto imortal de jeune parque.
Não procuro justificações para vós, que me ledes (à la guerre comme à la guerre), mas quero pelo menos explicar-vos a fatalidade do concurso de acontecimentos que me levou à vitória.
A festa para que fui convidado era um miserável petting party de jovens despidas e universitários impúberes. A luxúria flexível daquelas mocinhas indesejadas, a oferta negligente que faziam dos seios através da blusa desabotoada no impulso de um passo de dança, desgostava-me. Estava já pensando em escapar-me rapidamente daquele local de vulgar comércio de virilhas ainda intactas, quando um som agudíssimo, quase estridente (e como poderei alguma vez exprimir a freqüência vertiginosa, a rouca descida das cordas já gastas, l'allure suprème de ce cri centenaire?), um lamento trêmulo de mulher velhíssima mergulhou no silêncio os circunstantes. E na moldura da porta, vi-a, com o semblante da longínqua parca do choque pré-natal, marcado pelo entusiasmo cadente da cabeleira encanecidamente lasciva, o corpo encarquilhado que vincava com ângulos agudos o tecido liso e negro, as pernas flébeis que o tempo emagrecera e curvara inexoravelmente em arco, a linha frágil do fêmur vulnerável, perfilando-se por baixo do pudor antigo da venerável saia.
A mocinha insípida que nos recebera exibiu um gesto de cortesia enfadada. Ergueu os olhos para o céu e disse: “É a minha avó...”
29 de março de 2008
28 de março de 2008
em passo do descompasso
a cada passo, desfaço um laço
rompendo elos, enfeio os belos
cegos de embelezar
algo anda me deixando preocupado
eu fumo um maço, e faço um laço
criando elos, enxergando os cegos
feios de embelezar
tu andas me deixando descompassado
a cada maço, eu fico cego
criando feios, enxergo os belos
belos por não enxergar
eu ando meio sem compasso
a cada tu, enxergo algo
criando o belo, o feio e o cego
todos a descompassar
27 de março de 2008
Que seja
23 de março de 2008
22 de março de 2008
ponto
Tudo acaba de começar.
e isso poderia não ser ironia nem metáfora
seria tudo mais facil
não seria?